Atitude crítica: o ato de filosofar (9º ano)
A primeira característica da atitude filosófica é negativa,
isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos
fatos e às idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao
estabelecido.
A segunda característica da atitude filosófica é positiva,
isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os fatos, as
situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação
sobre o porquê disso tudo e de nós, e
uma interrogação sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é?
Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica.
A face negativa e a face positiva da atitude filosófica
constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico. A Filosofia
começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto,
começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos saber; por isso, o patrono da
Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a primeira e fundamental verdade
filosófica é dizer: “Sei que nada sei”. Para o discípulo de Sócrates, o
filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles,
acreditava que a Filosofia começa com o espanto.
Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso
mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o
tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos,
professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que o
mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos
e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos
perguntar também o que somos, por que somos e como somos.
Para que Filosofia?
Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que
Filosofia? É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém
perguntar, por exemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou
geologia? Para que história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia?
Para que astronomia ou química? Para que pintura, literatura, música ou dança?
Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia?
Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta
irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com
a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não
serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre
distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém
entende e que são perfeitamente inúteis. Essa pergunta, “Para que Filosofia?”,
tem a sua razão de ser.
Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos
considerar que alguma coisa só tem o
direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de
utilidade imediata. Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo
mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na
aplicação científica à realidade.
Todo mundo também imagina ver a utilidade das artes, tanto
por causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vê
os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da
humanidade.
Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a
Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma. Parece, porém, que o
senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências
pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos
rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de
instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos,
corrigindo-os e aumentando-os.
Ora, todas essas pretensões das ciências pressupõem que
elas acreditam na existência da verdade, de procedimentos corretos para bem
usar o pensamento, na tecnologia como aplicação prática de teorias, na
racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.
Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer
fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso
não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões
já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o
trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo.
Atitude filosófica: indagar
Se,
portanto, deixarmos de lado, por enquanto, os objetos com os quais a Filosofia
se ocupa, veremos que a atitude filosófica possui algumas características que
são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado.
Essas características são:
-
perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a idéia, é. A Filosofia pergunta qual é
a realidade ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa
qual;
-
perguntar como a coisa, a idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura
e quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou um valor;
-
perguntar por que a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia
pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor.
A
atitude filosófica inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia
e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco, porém, descobre que essas
questões se referem, afinal, à nossa capacidade de conhecer, à nossa capacidade
de pensar.
A reflexão filosófica
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes
conjuntos de perguntas ou questões:
1. Por
que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que fazemos?
Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos,
dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?
2. O
que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que
queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que
pensamos, dizemos ou fazemos?
3.
Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos?
Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?
Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar,
falar e agir? E elas pressupõem a
seguinte pergunta: Nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um
conhecimento?
Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que
é? Como é? Por que é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos
que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a
significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas.
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