Liberalismo e Direitos Humanos (7º ano)
Vamos ler o texto de Torres sobre liberalismo x Liberdade x Individualidade, para ter uma contraposição ao "memi" discurso mimético sou "liberal na economia" e "conservador nos costumes":
Liberdade e
liberalismo, subjetividade e individualismo?
O conceito de liberdade tem
uma longa história, desde a Antiguidade até hoje, atravessando toda a Idade
Média e a Modernidade. É claro que não há condições de abordar todo esse
caminho aqui. A intenção deste texto não é de elaborar um tratado sobre o tema
ou alcançar uma definição final sobre ele. A intenção é refletir um pouco sobre
a liberdade e algumas de suas possíveis derivações.
Liberdade talvez seja um dos temas mais
distorcidos, manipulados e mal compreendidos da nossa cultura. Ela se confunde
com uma série de compreensões subjetivas e costuma ser utilizada como uma
espécie de “palavra-bandeira”, estimulando as pessoas a tomarem partido em um
conflito através de um valor absoluto e unânime sobre a liberdade – mas sem se
esquecer dos limites morais, nesse caso, já
tendendo ao uso político. Tornou-se comum em nossos tempos que líderes
políticos declarem guerra em nome da liberdade e recebam como parte do combo
o Prêmio Nobel da Paz.
Também é popular a conexão entre
a noção de liberdade condicionada aos valores morais
com as condições econômicas e sociais das pessoas. Esconde-se aqui novamente a
ideia de que todos são livres, mas deveriam seguir determinado caminho previamente
aprovado. Sendo assim, a falta de sucesso financeiro e social se deve à libertinagem exercida pelo sujeito, sendo o
castigo socioeconômico merecido e exemplar. Os pais e mães demonstram aos seus
filhos os malsucedidos do nosso sistema e recomendam que é melhor se empenharem
nos estudos e no trabalho para não sofrerem tal punição.
Dessa maneira, parece haver um tipo
de Paideia, ou seja, uma formação integral do sujeito
conforme a nossa época. Desde criança, assimilamos determinados conceitos de
forma natural para que a adesão na idade adulta seja mais pacífica reduzindo ou
até eliminando a possibilidade de conflitos. No caso, uma forma de Paideia Christi contemporânea.
Sobre
essa clássica relação entre a liberdade e a religião, cabe aqui um frequente
clichê utilizado quando se comenta sobre a liberdade. Esse clichê, no entanto,
não é aplicado na tentativa de exaltar as emoções ou por modismo filosófico. A
citação se deve à pertinência da pergunta realizada pelo escritor Fiódor Dostoiévski através de seus personagens no
livro Os Irmãos Karamázov. Um dos irmãos questiona a
existência de Deus durante uma profunda conversa que costuravam. Diante do
questionamento, costuma-se extrair a seguinte paráfrase: “Se Deus não existe,
então tudo é permitido” (DOSTOIÉVSKI, 2008).
Antes mesmo de Dostoiévski, Voltaire já afirmava essa necessidade de uma moral
divina, dizendo que, caso não houvesse um Deus, seria preciso inventá-lo. Mas,
apesar de toda essa referência a Deus e à religião, a busca da presente
discussão não envolve necessariamente esse campo. Trata-se de perceber o quanto
a noção de liberdade está sempre cerceada por limites imaginários e subjetivos
que acabam por contribuir para a má compreensão do conceito.
A ideia de que a liberdade pode ser
absoluta ainda que à revelia da moral vigente é
assustadora para a maioria das pessoas. Anarquia, no senso comum, é sinônimo de
bagunça, caos, violência, destruição. Em nada corresponde com a filosofia dos
autores considerados anarquistas, que imaginaram uma sociedade regida pela
ética sem a necessidade de controles externos aos indivíduos, principalmente os
de coerção.
A partir de
diversos campos da Filosofia e das ciências, acredita-se que é preciso dar
limites à liberdade humana. Presenciar as pessoas tomando atitudes que ameaçam
minha ordenação de mundo é motivo para desestruturar todo o alicerce
psicológico que me fornece segurança e estabilidade na existência.
O controle do outro é, na verdade, um
controle desesperado de si mesmo, da sua própria visão de mundo. Saber que as pessoas são completamente
livres para dizerem e fazerem o que quiserem é aterrorizante. Imaginar que as
pessoas ou os acontecimentos históricos não são regidos por ninguém é motivo
suficiente para desenvolver uma síndrome do pânico. Como pode ser tudo tão
inseguro, tudo tão à deriva? Filosofia Ciência & Vida Ed. 127
(TORRES,a.R. Liberdade e liberalismo, subjetividade e individualismo. 11 de
julho de 2017. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.com.br/liberdade-e-liberalismo-subjetividade-e-individualismo>
Acesso em 16/02/19).
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